A história conta que dois irmãos tiveram exatamente a mesma criação. Receberam os mesmos ensinamentos e os mesmos valores. Passaram pelos mesmos desafios e possuíam histórias muito semelhantes até a adolescência. No entanto, na vida adulta, a forma como enxergavam o mundo começou a se diferenciar drasticamente. E isso influenciou significativamente na maneira como viviam suas vidas.
João tinha uma vida muito árdua e difícil. Sua mente estava repleta de preocupações. Eram tantos os problemas a serem resolvidos que mal conseguia dormir direito. Na verdade, seu sono era interrompido com frequência. Sonhava com as contas que tinha que pagar e com o chefe que tinha que aturar! O medo de ser mandado embora lhe rondava e o temor de voltar ao patamar da pobreza, que o assolou no passado, o assombrava. Assim sendo, acordava atônito a cada duas horas, sem ar e com o coração bombeando acelerado!
Quando finalmente conseguia pegar no sono, lá pelas cinco da manhã, era incomodado pelo barulho estridente e irritante do despertador: era hora de levantar e ir para o trabalho! Mas ele estava tão cansado que até parecia que um caminhão havia passado por cima dele! “Só mais 5 minutos, pelo amor de Deus”, pensava. E, então, ativava o módulo soneca no seu celular, que tocava uma, duas, três vezes mais tarde…até que, finalmente, ele dava um pulo da cama. Já estava atrasado para o trabalho! Lavava o rosto, colocava o bule no fogão e tomava uma xícara de café preto de café da manhã! Apenas isso. E assim seguia para mais um dia de labuta, travado no engarrafamento caótico da cidade.
E o que se passava na cabeça do João? “Que lixo que é a minha vida! Todo dia ter que pegar esse inferno de trânsito, pra ter que olhar para a cara rabugenta daquele meu chefe maldito! Ter que aguentar aqueles clientes chatos e, ainda por cima, receber aquele mísero salário no final do mês que dá até vontade de chorar!”.
E era com todo esse peso que o João chegava no trabalho, carrancudo, sem cumprimentar ninguém. Não se esforçava para atender os clientes. Não se interessava em ajuda-los, tampouco em ouvi-los. Só queria despachá-los para outro setor!
Na hora do almoço, mais uma pequena dose de sofrimento. Isso, porque João tinha sobrepeso e andava com problemas financeiros. Uma coisa levava à outra. Como estava cheio de dívidas, preferia economizar na hora do almoço e optava por comprar aquelas promoções de 5 esfirras por 1 real. Todo dia era isso! E por se alimentar mal, não tinha força nem vontade de praticar qualquer atividade física!
A parte da tarde era mais um martírio, com mais carrancas e bufadas; e muitos olhares para o relógio! O sentimento era: “vai dar meia-noite, mas não bate às dezoito pra eu ir embora desse inferno”.
E quando o relógio chegava às seis badaladas, como em um passe de mágica, lá estava João, novamente no engarrafamento, no caminho de volta para casa. E olha, o rancor permanecia. Mas agora estava em outra direção: ele não queria chegar em casa para encarar a “tribufu” da sua mulher (como ele mesmo se referia); nem aguentar os berros estridentes do “pentelho” do seu filho.
João não aguentava mais tudo isso. Essa, definitivamente, não era a vida que ele pediu a Deus! Ao chegar em casa, ignorava todos para fazer a única coisa que lhe agradava: entorpecer sua mente com algumas latinhas de cerveja até tarde da noite e, assim, escapar da sua triste realidade. E assim o ciclo se repetia diariamente e era dessa forma que João vivia a sua vida, preso em seu mundo de insatisfações.
O modus operandi da mente do João tinha um único endereço quando o assunto eram os problemas de sua vida: o outro! O mundo externo! A culpa era sempre do outro. O chefe que não o promovia, os colegas de trabalham que o boicotavam, o governo que não resolvia os engarrafamentos, a economia que aplicava juros exorbitantes, a esposa que era frígida, o filho que era mal educado. Absolutamente tudo que acontecia em sua vida era obra do destino! Era azar puro! “Como esse mundo é injusto”, pensava!
João sofria de um mal chamado “a síndrome do coitadismo”! Quem sofre desse mal, pensa que a solução dos problemas está sempre fora do seu alcance! É o chamado vitimismo! Nessa toada, João deixa que sua vida o leve de acordo com os acontecimentos! Ele praticamente não sabe o que é viver! Ele simplesmente mata um leão a cada dia, ou seja, apenas sobrevive. Em determinadas ocasiões, é tão passivo que nem para sobreviver ele serve. Ele simplesmente existe! É um ser humano rodeado de insatisfações, preso nessa espiral negativa e a única coisa que faz com maestria é respirar e reclamar. Nada mais! E isso é muito triste!
Muto bem, João tinha um irmão: o José. José tinha uma vida excitante, repleta de desafios e realizações! Sua mente estava sempre cheia de novas ideias, muito alinhada com seu propósito de vida, que era inspirar as pessoas a construir uma sociedade mais unida, mais justa e, assim, tornar o país um lugar melhor para se viver! Todas as noites, ele deitava sua cabeça no travesseiro com um sentimento de realização e satisfação!
Dormia cerca de 7 horas ininterruptas por noite! Dormia igual um anjinho! Ele se levantava antes do despertador, cheio de energia e vitalidade. Acordava cedo, preparava um café da manhã reforçado e ia praticar seus exercícios físicos! Quanto mais ele se exercitava, mais cheio de energia ele ficava!
Feito isso, era hora de encarar o engarrafamento caótico da cidade. Nesse momento, ao invés de se queixar, ele aproveitava para escutar seus podcasts inspiradores, com histórias de superação e de sucesso do mundo dos negócios! Nesse momento, era possível avistar um sorriso no canto de sua boca: era sua satisfação permanente que o acompanhava, pois aquele era mais um dia onde ele teria a oportunidade de fazer a diferença na vida de seus clientes!
E com toda essa energia ele chegava no trabalho, sorridente, disposto, cumprimentando a todos de sua equipe! Sempre solícito, fazia questão de se antecipar às possíveis situações desagradáveis que cada cliente poderia passar. E isso lhe trazia muito prazer: ajudar os outros!
Na hora do almoço, José gostava de se alimentar de maneira saudável, com um
prato bem balanceado e colorido. Não era à toa que ele estava muito bem
fisicamente e cheio de disposição!
A parte da tarde passava com num piscar de olhos! E, depois de fazer muitas reuniões, tocar diversos projetos e atender uma porção de clientes, José se dava conta que tinha ficado pelo menos umas duas horas além de seu expediente. Era hora de voltar pra casa, pra curtir sua família!
José voltava a pegar o engarrafamento caótico da cidade, mas dessa vez ele preferia escutar uma música relaxante para desacelerar seu organismo! Pensava na sua esposa amada e no seu filho querido, o que trazia uma imensa gratidão pela vida tão plena que vivia! Ao abrir a porta de casa, o filho vinha correndo lhe abraçar e os dois rolavam no chão de alegria! Brincavam intensamente por algum tempo!
Até que José, que também gostava de se aventurar na cozinha, preparava um jantar romântico para a esposa! Os dois tomavam uma taça de vinho, conversavam, trocavam carícias, faziam amor e adormeciam juntos! E assim o ciclo se repete, dia a após dia, um mais excitante do que o outro!
O modus operandi da mente do José tinha um foco bem definido: ele escolhia o mundo em que queria viver! Ele era revigorado pelas oportunidades criadas e pelos desafios aceitos! Tudo isso gerava muita energia, excitação e atitude! E, na cabeça dele, o responsável por criar tudo isso era ele mesmo! José vivia em abundância! Ele era o protagonista de sua própria vida! Era o responsável por tudo o que acontecia com ele!
Podemos perceber que a forma como o José enxerga a vida é completamente diferente da forma como o seu irmão, João, a vê! Mesmo eles tendo tido a mesma criação, os mesmos valores e a mesma educação por seus pais! Mas por que será que isso acontece? Por que eles agem de maneira tão distinta? Por que enxergam o mundo de forma tão antagônica?
Caro leitor, preciso fazer uma revelação que omiti no início desta fábula! João e José, na verdade, não eram irmãos. Eles formavam uma única pessoa, chamada João José! E, em determinados momentos de sua vida, o João, que sofria da síndrome do coitadismo, era acionado; em outros, o José, o protagonista, é quem fazia o papel principal! E assim, o João José ia vivendo em seu emaranhado de inconstâncias.
Já parou para pensar que nós também embarcamos nessa montanha russa em nossas vidas? Nós oscilamos de humor, de motivações, de força de vontade, de crenças. Ora acionamos o nosso João e fazemos o papel de vítima, ora acionamos o nosso José e fazemos o papel do protagonista!
Quais são os gatilhos que acionam o seu João? É possível interpretá-los? É possível dominá-los? E quais são os gatilhos que acionam o seu José? É possível estimulá-los? É possível potencializá-los? Essa descoberta não é simples, mas é fundamental para vivermos bem e melhor! E a boa notícia é que a forma como enxergamos a vida só depende de nós mesmos! A maneira como a gente encara os problemas que nos rodeia, só depende da gente mesmo. E de mais ninguém!